Autoria de Lu Dias Carvalho
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Como era de esperar, os povos ao norte dos Alpes não tardaram a voltar os olhos paras as invenções e criações dos mestres italianos. Algumas causas contribuíram para que isso acontecesse, como veremos a seguir.
Os mercadores italianos medievais tinham criado rotas comerciais, travando contato com vários países europeus. Os livros e as instituições educativas permitiram que as ideias circulassem com mais velocidade. A imprensa, num processo de produção em massa, unificou os ensinamentos dos humanistas às gravuras dos mestres, espalhando-os pela Europa. A valorização da educação pelos humanistas contribuiu para uma progressiva busca por livros e ideias encontrados nos novos centros de estudo que se espalhavam pela Europa dos séculos XV e XVI.
Além das razões citadas acima, a Itália era o foco de atenção de todos aqueles que se interessavam pelo saber e também pelo conhecimento advindo da Antiguidade clássica. Era impossível à maioria dos artistas ficar alheios às três importantes realizações dos mestres italianos: a descoberta da perspectiva científica, o conhecimento da anatomia e o conhecimento das formas clássicas de construção.
A Itália tornou-se um grande centro de estudos e visitação. Os príncipes e os nobres, ao visitarem-na, voltavam encantados com o novo e, com frequência, solicitavam aos artistas de seu país que se atualizassem em relação ao que viram. Os arquitetos, acostumados com o estilo gótico, eram os que mais relutavam diante das mudanças. E só aceitaram o novo estilo parcialmente, adequando à sua arte uma coisa ou outra. Era comum, por exemplo, ver um arco ogival ceder lugar a um arco semicircular. Eles combinavam estilos tão antagônicos, o que deixaria transtornado um mestre italiano comprometido com as regras clássicas.
As coisas foram bem mais fáceis para os pintores e os escultores do norte dos Alpes. Os grandes mestres da pintura buscavam apreender as novas invenções para depois optar por aquilo que lhes interessava. O alemão Albrecht Dürer, por exemplo, somente durante o transcorrer de sua vida é que foi tomando ciência de que os novos princípios eram fundamentais para o futuro da arte.
O Renascimento não foi um movimento unificado, seguindo numa só direção. Tampouco outros países europeus se mostravam menos avançados do que a Itália em certos campos do saber. O que se notava é que outros países avançavam num rumo diferente. À Alemanha, por exemplo, não interessava o estudo do passado clássico, uma vez que não fora conquistada pelos romanos. O Renascimento, portanto, deve ser visto como algo complexo, até mesmo porque o século XVI foi um período de muita turbulência, com a Europa dividida pela Reforma e a ameaça constante do Império Otomano. Isso, de certa forma, afetava a propagação da cultura do Renascimento por toda a Europa.
No decorrer do século XVI, a Alemanha e os Países Baixos passaram a disputar com Florença, Milão, Roma e Nápoles tanto no campo da erudição clássica quanto no do conhecimento e da arte. Tais países eram conhecidos por suas tradições de erudição e de conhecimento, tornando-se um campo fértil para as ideias que se espalhavam a partir da Itália. E foi exatamente a combinação do novo saber somado às tradições desses países situados ao norte dos Alpes que contribuiu para que o Renascimento do norte europeu fosse dotado de um caráter diferente como movimento cultural.
O Renascimento dessa parte da Europa divergia do italiano em alguns pontos. Estava mais voltado para a crítica textual, mais ligado aos temas de religião pessoal e ética e seus humanistas e artistas não levavam em conta a grandeza e a dignidade do homem, mas, sim, sua debilidade e o abismo que o separava da majestade de Deus.
Dentre os grandes artistas do norte europeu podem ser citados: Roger van de Weyden, Jan van Eyck, Rogier van der Weyden, Hugo van der Goes, Albert Ouwater, Gerardo de San Juan, Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel (o Velho), Michael Pacher, Martin Schongauer, Albrecht Dürer, Hans Holbein (o Jovem), Mathias Grünewald, Lucas Cranach e Albrecht Altdorfer, etc.
Exercício
1. O que levou o Renascimento italiano a espalhar-se por outras partes da Europa?
2. Fale sobre a Alemanha e os Países Baixos no século XVI.
3. Qual era a diferença entre o Renascimento italiano e o do norte europeu?
Ilustração: Brincadeiras Infantis, obra de Pieter Brueghel, o Velho
Fontes de pesquisa
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann
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