Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÍNDIA – ONDE BOI É VACA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A grandeza de um país pode ser medida pela maneira como trata os animais. (Gandhi)

Se alguém viesse a me perguntar qual foi a mais importante manifestação do hinduísmo para fora, gostaria de sugerir que foi a ideia da proteção à vaca. (Gandhi)

Dentre as muitas coisas que chamam a atenção dos ocidentais sobre a Índia está o fato de que a vaca seja “sagrada” para a imensa maioria dos indianos. Tanto é que o termo “vaca sagrada” significa, dentro de nossa cultura, excesso de lealdade a um órgão ou instituição, que parou no tempo, sem se preocupar com mudanças. Há aí certa dose de ironia. E todo mundo sabe o que significa a expressão “vaca de presépio”.

O culto à vaca e ao touro foi uma prática comum, em muitas partes do mundo, começando na Mesopotâmia, cerca de 6.000 a.C., espalhando-se pelo noroeste da Índia, com a invasão do Vale do Indo, no segundo milênio a.C., pelos arianos (pastores nômades que estabeleceram a religião védica). O mais surpreendente é que esse culto persistiu singularmente na Índia, até os dias de hoje.

Os horrores do mundo ocidental, praticados contra os animais, começam com a caça por esporte, rodeios, touradas e vivisseção. Mas, concomitantemente, também temos o inverso, que diz respeito aos animais de estimação bem melhor tratados de que as crianças abandonadas. Por ocasião da Copa do Mundo na China, as pessoas mostraram-se indignadas com a morte de cães naquele país. Então precisamos ser compreensivos, também, com os indianos, ao se sentirem indignados com a matança de vacas.

 Os hindus vegetarianos mais ortodoxos nem ovos consomem. Mas outros comem frango, peixe e carneiro. Na Índia, a grande maioria dos restaurantes é vegetariana. E mesmo as pessoas que comem carne, fazem-no apenas algumas vezes por semana, diferentemente dos brasileiros que dela fazem o seu principal alimento diário. No Japão, a carne entra normalmente como um complemento alimentar, agregado a outro alimento.

Na Índia, a vaca é chamada de “goru” e não há diferença entre ela e o boi. Vaca é vaca e boi també é vaca! A tradição da sagração da vaca nasceu com o hinduísmo, que considera esse animal até mais “puro” que um brâmane (casta principal). Não pode ser morto ou ferido, e deve circular por onde bem entender, sem ser incomodado. O leite da vaca, sua urina e até mesmo suas fezes são utilizados em rituais de purificação. Nada se perde desse animal.

Somente os muçulmanos (vistos como impuros e seu toque poluente) podem matar as vacas, sendo o ofício de carniceiro exclusivo dessa comunidade. Só se pode comer carne de vaca, em toda a Índia, nos restaurantes muçulmanos. Todos os outros cidadãos deste subcontinente (hindus, jainistas, budistas e outros) têm a vida como algo sagrado, sendo que a vaca é a sua maior representação.

Na Índia, as vacas passeiam tranquilamente pelas cidades e vilas, sem que sejam molestadas pelos habitantes. Elas morrem de velhice e possuem hospitais próprios. E é interessante notar que certas pessoas advindas de todas as castas, incluindo as mais altas, abriram mão de suas profissões para se devotarem apenas ao bem-estar das vacas mais fragilizadas e mais velhas, criando vacarias, sustentadas por elas e por outras pessoas que cooperam com donativos. Em alguns lugares, é considerado bom augúrio dar um lanche, um pedaço de pão, ou fruta a uma vaca. E um cidadão pode ser enviado para a prisão por matar ou ferir uma vaca.

Alguns estudiosos acreditam que a tradição chegou ao hinduísmo através da influência  vegetariana do Jainismo (é uma religião indiana que enfatiza a não violência e a ascese), mas a vaca continua a ser o mais respeitado e protegido, dentre todos os animais da Índia. Versos do Rigveda referem-se à vaca como Devi (deusa), identificado com Aditi (mãe dos deuses).

Da vaca tudo é aproveitável, sem a necessidade de matá-la:

  • O leite, chamado de “dut” é usado nas três principais refeições, assim como o  arroz,  chá ou  café.
  • Do leite amassado são feitos requeijões artesanais. É o alimento principal para Krishno, o deus do amor.
  • Muitas oferendas postas nos templos hinduístas são feitas com flores, ovos e doces,  levam leite.
  • O leite é o símbolo da vida, importante para a sobrevivência e crescimento das crianças.
  • O leite é de suma importância para as pessoas da terceira idade, que dele também necessitam.
  • A vaca (assim como o boi) puxa todo tipo de carros, com rodas de pau e de ferro, para semear o arroz e a mostarda.
  • A bosta, depois de seca, é também aproveitada, sendo recolhida, posta para secar nas paredes e muros das casas, e depois é usada como lenha, para fazer o fogo nas cozinhas.

Existe, portanto, uma razão econômica para sustentar a sacralização da vaca. Mas nem tudo é ouro para as “vacas sagradas”.  Apesar de seu status sagrado, elas nem sempre parecem muito apreciadas na Índia. Os turistas, muitas vezes, são surpreendidos, ao vê-las andando negligenciadas pelas ruas, ao redor da cidade, vivendo no lixo das sarjetas, estando muitas delas doentes.

A vaca é homenageada pelo menos uma vez por ano, em Gopastami. No “Vaca Holiday”, as elas são lavadas e decoradas no templo e oferendas são oferecidas na esperança de que os dons de sua vida continuem.

Nota:   Imagem copiada de http://www.bbc.co.uk/mundo/lg/cultura_sociedad

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ÍNDIA – ANJOS INTOCÁVEIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Água potável, educação e diminuição da pobreza fazem mais pela boa saúde que remédios e diagnósticos. (Raj Arole)

A vida da mulher na Índia, principalmente as que vivem como intocáveis, é de uma penúria a toda prova. E, mesmo vitimadas pelo descaso das castas superiores, é possível encontrar, dentre elas, verdadeiros anjos terrenos. Como não poderia deixar de ser, não carregam diploma algum, algumas nem mesmo sabem ler, mas carregam a vontade firme de ajudar, embora tratadas como “intocáveis”.

Tais mulheres são treinadas para exercer a função de agentes de saúde (PSGR), fazendo partos, curando doenças, salvando vidas. Muitas delas possuem o corpo marcado por doenças da adolescência, como a lepra e a varíola. Elas atendem seus pacientes desprovidos de assistência médica, em domicílios, conquistando-lhes a confiança. Além de fazerem partos, também dão assistência aos bebês. Atendem aos idosos e examinam os moradores, outrora doentes de lepra, de olho numa possível recaída. Antes delas, a mortalidade causada pelo parto era muito grande, assim como os surtos de sarna nas crianças. A malária e a diarreia eram constantes, assim como a lepra e a tuberculose.

A falta de médicos em países pobres é alarmante. Insatisfeitos com os baixos salários e com as condições precárias em que são obrigados a trabalhar, médicos indianos partem para outros países em busca de uma melhor remuneração. Vão trabalhar nas zonas rurais dos países ricos. O que significa que, na verdade, a Índia subsidia a medicina dos países ricos, como EUA e Grã Bretanha. Há regiões em que há um médico para 50 mil pessoas. Pois, assim como nos países desenvolvidos, os médicos que optam por ficar na Índia, escolhem as áreas urbanas, abandonando a zona rural.

Quem mais sofre com a falta de médicos é a população carente, que precisa aprender sobre nutrição, amamentação, higiene e uso de remédios caseiros, tais como o soro para a reidratação oral, para tratamento preventivo. A saúde nesses lugares precisa passar pela ajuda à população na busca por água limpa, melhoria nas práticas agrícolas e rede de saneamento e pelo combate à discriminação das pessoas de castas inferiores.

O Projeto de Saúde Geral Rural foi desenvolvido por um casal de médicos indianos, na tentativa de amparar os mais desvalidos dentre os pobres. Tem como objetivo a medicina preventiva. Deste objetivo nasceu o envolvimento com os moradores. As mulheres também possuem a ajuda de uma equipe móvel, composta de enfermeira, paramédico e assistente social, que atende os casos mais difíceis e reforça a autoridade da agente comunitária.

Na Índia, as três causas mais comuns da mortalidade infantil são: infecções respiratórias, fome crônica e diarreia. Problemas que podem muito bem dispensar o médico. Uma agente comunitária está preparada para cuidar de 80% dos problemas de saúde de uma aldeia, pois a grande maioria deles está ligada à nutrição e ao ambiente.

Não foi fácil o início do trabalho de assistentes sociais, prestado pelas mulheres intocáveis, já que não eram consideradas como seres humanos. Se roçassem o sári no alimento de alguém de uma casta superior, esse seria jogado fora. Também eram proibidas de usar sapatos. A principal tarefa foi ter que transformar essas mulheres, dando-lhes uma identidade e autoestima. Segundo Shobha, filha dos Aroles, hoje diretora do programa, responsável pelo curso de treinamento, quando sua mãe perguntava-lhes:

“Quem é mais inteligente, uma mulher ou um rato?”

“Um rato” – respondiam elas.

A situação nesses vilarejos ainda demanda muitas mudanças. As superstições estão arraigadas. Muitas pessoas ainda optam por levar uma pessoa picada por cobra ao templo e não ao hospital. Contudo, os êxitos do programa já se fazem sentir. Em 38 anos de fundação, 300 vilarejos já contam com agentes de saúde treinados. A transformação veio também com a adoção de um novo modo de vida, como o cultivo das hortas caseiras, água limpa e hábitos de higiene.

Segundo as mulheres, o território mais difícil de colonizar talvez tenha sido a cabeça das pessoas, apegadas às tradições e ao preconceito. Para muitos habitantes, as doenças vinham dos deuses, sendo, portanto, sagradas. Essas mulheres intocáveis, agentes de saúde, assim resumem seu trabalho:

“O conhecimento nos dá prestígio e respeito. Somos valorizadas pela comunidade.”

Nota: Imagem copiada de http://geografianovest.blogspot.com.br

Fonte de pesquisa:
 National Geographic/ nº105/ ano 9

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ÍNDIA – A VACA SAGRADA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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As cidades indianas têm crescido muito e as vacas passaram a ser um problema mais do que visível, que nem mesmo o divino touro Nhandi poderá resolver, sendo uma das queixas mais recorrentes, o fato de que elas, em busca de alimento, espalham o lixo, rasgando os sacos. Sem falar no perigo que vêm trazendo para elas e para o tráfego nas grandes cidades, que se avoluma cada vez mais, com o acréscimo de veículos.

Tentando reduzir a população de vacas em Nova Delhi, o governo vem contratado homens, que possuem a incumbência de capturar e transportar as divinas vaquinhas para bem distante das fronteiras da cidade, onde são cuidadas. Mesmo isso não tem sido fácil, pois, ao ouvirem o som do caminhão, elas saem em debandada pelas ruas e, sem falar na oposição do povo hindu quanto a tal método. O problema parece realmente insolúvel.

Segundo a visão ocidental, a Índia só abandonará as suas superstições religiosas no dia em que matar e comer uma vaca. Acha um paradoxo a adoração à vaca, enquanto milhares de indianos morrem de fome. Questão difícil de ser resolvida, pois nem mesmo os 200 anos de domínio britânico mudaram alguma coisa na visão desse povo, em relação à vaca sagrada. Por isso, a proteção à vaca tem sido chamada de “lunático entrave” para a gestão das explorações sensatas, segundo a visão dos economistas ocidentais. Como vegetariana que sou, eu me oponho à matança dos animais. Penso que não seja por aí.

O mundo ocidental acha um absurdo o hindu não aproveitar para comer as vacas doentes ou idosas. No entanto, a Índia gasta muito menos com o envelhecimento de seu gado, do que os estadunidenses com seus gatos e cães. Ao ouvir loas sobre a civilização ocidental, certo estadista indiano respondeu que “o agricultor indiano vê o gado como parte da família, uma vez que dele depende para sua própria subsistência”. Por isso, faz todo sentido, quer economicamente ou emocionalmente, lutar pelo seu bem-estar. Quase toda família rural indiana possui, no mínimo, uma vaca leiteira. A Índia possui a maior concentração de gado do mundo, e é o segundo produtor mundial de leite.

É interessante notar que os principais problemas de saúde na Índia são, na verdade, resultantes da superlotação urbana, saneamento inadequado e das dificuldades de atendimento médico. Enquanto no Ocidente, a hipertensão arterial, doenças cardíacas, artrite e câncer constituem as maiores ameaças para a saúde. Temos que buscar o meio- termo entre as culturas.

Os Vedas (livro sagrado do hinduísmo) concordam com a alegação ocidental de que o homem tem domínio sobre os animais. No entanto, não aceita o modo como o Ocidente lida com seus dependentes animais. Alegam que temos domínio sobre as nossas crianças e anciãos, mas nem por isso justifica o fato de abatê-los. Os Vedas não ensinam que a vaca é superior à forma humana de vida. Pelo contrário, é uma mãe a prestar favores à sociedade humana e, por isso, deve ser protegida. Sua assistência ao homem libera grande parte da humanidade da luta na vida, proporcionando-lhe mais tempo, para a busca espiritual. É um erro pensar que os animais não possuem sentimentos, dizem eles. O que a Ciência está a nos provar.

Para a Índia, a vaca representa o princípio sagrado da maternidade, simbolizando a caridade e a generosidade, pelo jeito como distribui seu leite, que é essencial para a alimentação dos jovens e idosos. Contudo, as nossas sagradas rainhas enfrentam sérias dificuldades. Uma delas é a subnutrição crônica em razão da falta regional e sazonal de forragem e água. Ficam com o sistema imunológico enfraquecido, tornando-se suscetíveis à infecção parasitária e outras doenças. Sendo que um grande número de animais mal nutridos cria um potente meio de surtos de doenças infecciosas, que exigem vacinas caras, muitas vezes ineficazes pela falta de refrigeração. Os ocidentais questionam se, a uma triste existência em quase inanição, muitas vezes também doentes crônicas, sem assistência governamental, não seria mais humano o abate. E ambientalistas preveem que haverá um choque breve no território indiano, porque a massa de terra do país não pode sustentar o crescimento da população humana e animal, como vem acontecendo.

Gowshalas (refúgios para o gado) e pinjrapoles (refúgio para uma mais diversificada população animal) estão localizados em toda a Índia, sendo mantidos pelos impostos e doações de caridade da comunidade empresarial. Mesmo sabendo que o búfalo é de melhor qualidade na produção de leite do que a maioria das variedades de vacas, raramente ele é encontrado em gowshalas, porque é considerado impuro e não merecedor do mesmo respeito que a vaca. Mas, infelizmente, tais abrigos não podem absorver todos os bezerros, vacas e bois, uma vez que a população bovina está constantemente aumentando, pois a vaca deve ter um bezerro para produzir leite. Os danos ecológicos, produzidos por milhões de vacas leiteiras, estão transformando algumas partes da Índia num deserto desprovido de árvores e solo superficial.

Devido à oposição religiosa à eutanásia, mesmo morrendo de dor e sem assistência alguma, esses animais não são submetidos a ela. Muitos ortodoxos hindus e jainistas opõem-se à morte de animais, por qualquer razão, pois pregam que é errado interferir, de alguma forma, com o carma ou o destino do outro. Hindus têm fundamentado que matar uma vaca doente é como matar a própria mãe, o que é impensável para eles.

Nota: Imagem copiada de http://aumagic.blogspot.com.br

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ÍNDIA – A SUÁSTICA HINDU

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A palavra suástica, que no sânscrito significa “boa sorte”, também conhecida como cruz gamada é um símbolo místico, um amuleto encontrado em muitas culturas, tanto nos tempos antigos quanto nos atuais. São conhecidas as suásticas dos índios Hopi, dos Astecas, dos Celtas, dos Budistas, dos Gregos, dos Hindus, das culturas pré-cristãs, das tribos nativas norte-americanas, do período neolítico, com pequenas variações entre umas e outras.

Alguns autores imaginam que a suástica tenha sido um símbolo muito especial, por ser encontrada nas mais diferentes culturas, em tempos diferentes, sendo que muitas dessas culturas, jamais tiveram contatos entre si. Como indicativa do bem, pode ser vista como a representação dos quatro ventos e ou dos quatro deuses guardiães do mundo.

Quando pesquisamos sobre a suástica hindu, descobrimos que ela é tida como um símbolo da benevolência e da paz. Infelizmente, o nazismo não deixou de maculá-la, após o genocídio causado pelo preconceito e intolerância dos alemães da época. Embora tal símbolo tenha enfraquecido com o tempo, na Índia, um hindu que é visto com uma tatuagem da suástica é confundido em várias partes do mundo com um nazista.

Muitos hinduístas deixaram de usá-la, enquanto outros, mais fervorosos, ainda acreditam na rua reabilitação, pois assim como as palavras, os símbolos podem ter significados diferentes, a exemplo da cruz, em vários momentos da história humana.

Para o hinduísmo, a sua suástica foi roubada por Hitler, que a usou como um símbolo de guerra e de destruição, em suma, como representação do mal e do ódio ao diferente. Se antigamente ela simbolizava a sorte, hoje é sinônimo de barbárie, crueldade e genocídio em quase todo o mundo.

Muitos de nós nos perguntamos, como e por que o Nazismo adotou a suástica? São muitas as hipóteses. Segundo dizem alguns historiadores, um arqueólogo alemão encontrou numa escavação da antiga Troia uma suástica. O que para ele significava a migração ancestral do povo indo-europeu, ou seja, dos arianos, descoberta que comprovava a união entre os antigos germânicos e as culturas védicas e gregas. Além disso, Hitler também se inspirou no seu conteúdo místico, fazendo dela a bandeira do nazismo, que tremularia com ferocidade por várias partes do planeta. Assim, ela era definida pelo movimento:

  • vermelho – indicava a ideia social do movimento;
  • branco –  indicava a ideia nacionalista;
  • a suástica – indicava a missão de lutar pela raça ariana, e ao mesmo tempo pelo triunfo da ideia do trabalho criativo, que seria sempre anti-semítico.

Outra hipótese é a de que, baseando-se na teoria da invasão ariana da Índia, os nazistas entendiam que os primeiros arianos daquele país, introduziram o símbolo da suástica, que foi encampado pelas tradições védicas e sendo, portanto, a suástica a simbolização dos invasores brancos. E ainda julgavam que o sistema de castas hindu tinha sido um meio criado para se evitar a mistura racial, em tempos idos, naquela civilização.

Nota: Imagem copiada de http://petersond.files.wordpress.com

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ÍNDIA – AS MULHERES NA CULTURA INDIANA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não deve ser fácil para uma mulher ocidental viver num país cheio de crenças, superstições e rituais, onde ela só pode pronunciar o nome do marido no dia do casamento e jamais poderá chamar sua sogra pelo nome. É exatamente isso o que acontece na Índia, além de outras coisas totalmente fora do comum para nós ocidentais.

Uma moça (ou menina) não pode escolher seu pretendente, pois o compromisso da união é com a casta a que pertence e não com seus sentimentos. E, para protegê-la contra a esperteza do coração, nada melhor que lhe providenciar um casamento, o quanto mais jovem possível, como fazem os pais. Por isso, vemos tantas crianças viúvas, sofrendo o martírio do afastamento social, porque o jovem marido morreu, ainda que não tenham vivido um dia juntos. Mesmo assim, elas são feitas viúvas e desligadas da sociedade.

 A esposa vai morar na casa do marido, junto com os sogros e toda a família, servindo aos caprichos da sogra. Deve deixar suas roupas usadas para trás, levando apenas as novas. Essa é uma forma de não ficar apegada à vida anterior e levar sorte para a nova. O mais engraçado nessa superstição é que o marido não abre mão de coisa alguma. A mulher precisa se livrar do apego, mas o homem jamais. A esposa ainda deve usar o mangala (um colar que representa o compromisso de união, fidelidade, lealdade e boa sorte), também é um meio de mostrar que está casada. O mangala deve corresponder às nossas alianças.

A situação da viúva é uma aberração, pois o Código de Manu mais parece um instrumento de flagelo em sua vida. As leis embutidas em tal código dizem que, para honrar a memória do marido, uma viúva “decente” e exemplo moral para toda a família, jamais poderá conhecer o suor de outro corpo. Tem que definhar sozinha, honrando a memória do “digníssimo”, mesmo que esse tenha sido um carrasco em vida. Ela deve ser a personificação do bom exemplo, que é ser uma esposa ideal e devotada.

Mais terrível era a prática do Sati (Sutee), costume antigo que obrigava a viúva a ser queimada na pira, junto com o corpo do marido. Esse costume teve início durante as invasões islâmicas, quando as viúvas eram queimadas com o esposo, para não servirem ao invasor. Mas, depois, tal absurdeza passou a ser normal na vida da mulher hindu. Mesmo que a Constituição indiana nada reze sobre a proibição de uma viúva casar-se de novo, o costume continua. A prática do Sati foi rigorosamente proibida, mas algumas mulheres, principalmente nas aldeias, ainda fogem da lei e a praticam.

Segundo certos historiadores, a prática do Sati pode ter surgido de uma das causas:

  • o fato de o homem querer se proteger contra a mulher, com medo de ser assassinado, principalmente via envenenamento, numa sociedade onde a escolha do companheiro é feita pelos pais, ou seja, imposta, muitas vezes com uma cruel desproporção de idade (velho + criança);
  • o desinteresse da família do falecido em manter a viúva, que sempre foi vista como um peso morto (pois é a família que fica com todos os bens do filho morto).

Grande parte das viúvas, ainda nos dias de hoje, perde o seu prestígio dentro da sociedade hindu, passando por toda sorte de dificuldades. Ou elas ficam na casa da sogra como trastes velhos ou na “casa das viúvas”, vivendo do que mendigam às margens do Rio Ganges. Devem usar o sári de cor branca, cuja cor só é notada, quando a viúva goza de uma boa posição (normalmente nas classes altas) junto à família, pois as esmolambadas viúvas do Ganges parecem vestir a cor cinza, de tão encardidas que são suas vestes.

Na Índia existem bem mais meninos do que meninas, fato raro em quase todo o mundo. E a resposta está no fetocídio (retirada ou expulsão do feto, por livre vontade), apesar de proibido por lei (já sabemos que as leis na Índia são tão obedecidas, quanto as que vigoram no trânsito do país). O fetocídio agravou-se com a utilização do exame de ultrassonografia nas mulheres grávidas, pois ficam conhecendo o sexo do bebê com antecedência. Sendo menina, os pais pedem a sua retirada aos médicos, como se tratasse de um cancro. Mesmo nas classes mais altas, a visão é a mesma. As famílias continuam prestigiando o nascimento do sexo masculino, sendo uma tristeza para a linhagem,  ganhar só meninas.

O fato é tão grave, a ponto de o governo do país já se preocupar com tal desproporção entre os sexos. E, como medida radical, o exame só pode ser feito em mulheres que tragam risco na gravidez. Mesmo assim, muitos médicos praticam o aborto seletivo, infringindo a lei. Nas camadas que não podem pagar um obstetra, a criança (menina), na maioria das vezes, é jogada no Rio Ganges logo após o nascimento. O mais triste é saber que, em qualquer um dos casos, a decisão é tomada pelo marido, sem que a mulher possa participar, pois sua subserviência a ele não permite contestação. Quer queira ou não, terá que obedecer. A escassez de mulheres na população indiana já está levando ao compartilhamento de esposa. É comum o irmão mais velho compartilhar sua esposa com os mais novos e com os primos.

Ser rechaçada significa que a mulher não será aceita por nenhum pretendente, normalmente por problemas de ordem moral. Como as famílias hindus não aprovam que os filhos fiquem solteiros, ficar encravada é uma triste sina. A vítima será humilhada por todos os entes familiares. A presença de mulheres nos funerais de cremação é impedida. A justificativa é de que elas são muito frágeis na demonstração de seus sentimentos, fato que atrasa a reencarnação do falecido. Penso que elas choram muito  mais por pensarem no destino de viúvas que as aguarda.

Nota: Imagem copiada de http://cinema-indiano-bollywood.blogspot.com.br

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CHINA – COMO VIVEM OS CHINESES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Embora seja o quarto país do mundo em extensão territorial, a China é pobre em terras agricultáveis, pois grande parte de seu território é formada por montanhas e desertos. Apenas um quinto de seu tamanho é arável, contrastando com sua densidade populacional.

Os chineses tiveram que mudar seus hábitos para se adequarem a tão pouco espaço. Uma das mudanças foi a proibição dos cemitérios, de modo que os corpos são atualmente cremados. Como a cultura chinesa é muito ligada aos ancestrais, os familiares guardam as cinzas de seus mortos, durante várias gerações, em altares dentro de casa. Todos os dias acendem-lhes incenso e pedem orientação para todos os tipos de problemas. Como veem, na China nem os mortos descansam.

 A maioria do povo chinês é extremamente mística. Vê fantasmas por todos os lados. Antigamente, a entrada das casas e templos era construída em zigue-zague ou em ângulos retos, para deter os espectros, pois, no conceito chinês, esses não conseguem atravessar esquinas. Os nossos fantasmas são bem diferentes dos deles: atravessam portas blindadas, recebem propinas e não têm medo de gabinetes fechados, com esquinas ou sem esquinas.

O governo chinês, para deter o perigo de uma superpopulação, teve que inserir no país a política de um filho por família, . O mais triste nesta história é que as meninas, assim como em outras culturas asiáticas, foram sempre preteridas, principalmente entre os camponeses. Por isso, eram abandonadas à própria sorte ou mortas. O resultado de tal comportamento gerou um déficit de mulheres no país. Milhões de homens já não conseguem encontrar esposas. Pelo visto, o castigo veio a jato. Apesar de toda a modernização chinesa, as mulheres ainda são consideradas inferiores aos homens.

Assim como acontece no Japão, os jovens chineses, frutos do milagre econômico, estão abandonando costumes milenares, como a obediência extremada aos pais, o respeito aos idosos e autoridades, para adotarem a cultura ocidental, principalmente a dos estadunidenses. O rap, hip hop, tecno, funk e outros ritmos modernos são bem aceitos por eles. O combate ao uso e tráfico de drogas é acirrado no país, com fuzilamento para os que desrespeitam as leis. Portanto, não é comum encontrá-las entre eles.

A comida chinesa é uma das maravilhas da gastronomia mundial, contudo, vem perdendo espaço para o fast food, o que é lamentável. A carne de cachorro faz parte do cardápio do país há milênios. Dizem que o freguês, candidato ao prato canino, pode até escolher a raça. Que eles comam escorpiões, ratos fritos, farofa de cupim e cobras, tudo bem, mas devorar os fiéis amigos do homem, isso não. Fico com o coração doído só de pensar nisso. Que loucura!

Cenas amorosas ainda são vistas pelos chineses com certa discrição, sendo difícil ver pessoas sendo acariciadas na rua ou em outros locais públicos. O que não quer dizer que eles não sejam calientes na alcova, se levado em conta o número de comprimidos de Viagra vendidos no país,  desbancando o milenar ginseng e os cornos do rinoceronte, usados como afrodisíaco. O mamífero ungulado, perissodáctilo, ceratomorfo, rinocerotídeo agradece à Pfizer por lhe prolongar a vida.

O Viagra é produzido em fabriquetas de fundo de quintal, sendo vendido por um quinto do preço comercializado no Tio Sam. Se o estresse abaixa a guarda dos chineses, o Viagra supre o déficit. O grande filósofo Confúcio já dizia que “a mulher bem tratada escapa ao controle e, se mantida à distância, fica ressentida”. A verdade é que a mulher chinesa, durante milênios, funcionou apenas como procriadora de filhos machos, de preferência, e como cidadã de segunda categoria. Hoje estão presentes nas fábricas e noutras fontes de trabalhos. E como o artigo está escasso, imagino que comecem a ser olhadas com outros olhos.

A China de Mao mudou radicalmente, e o comunismo vem esquecendo suas origens. Os chineses cheios da grana vivem suntuosamente, e discriminam os mais pobres, principalmente os camponeses. O abismo entre a China rural e a urbana é cada vez mais visível.

É fato que nenhum povo tem se saído tão bem com a globalização quanto o chinês, apesar das nuvens de poluição que pairam sobre o país. Além de manter um comércio extremamente rentável, ainda tira proveito de tudo, quer vendendo ninharias, cópias ou satélites. Em todo o mundo se tem dito que os chineses transformaram a falsificação numa arte, copiando tudo com perfeição, sem dar bolas para a legalidade. Seus navios, verdadeiras fábricas móveis, permanecem fora das águas territoriais dos países, para produzir as mercadorias, e vendê-las com mais facilidade. Existem estimativas de que um terço do mercado mundial de falsificações é proveniente da China, incluindo a clonagem das histórias de Harry Porter. Mas não foram eles que inventaram a impressão e o dinheiro de papel?  O que significa que foram alunos bem aplicados…

Fonte de pesquisa:
China, o Despertar do Dragão/ Luís Giffoni

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